quinta-feira, 22 de abril de 2010

O IMPÉRIO DO CONSUMO - Eduardo Galeano

O IMPÉRIO DO CONSUMO - Eduardo Galeano

"A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço.

Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos. O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos."


Texto publicado pela revista Carta Maior em 17/01/2007 e encontrado em
http://cartamaior.uol.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=90

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Um comentário:

Iranildes Costa disse...

Reflexão sensacional! Uma descrição das prisões a que nos submetemos todos os dias, das algemas que nos atrofiam, envenenam e moldam. Pobre homem, escravo da sua própria mediocridade!
Beijos...