terça-feira, 30 de dezembro de 2008

FELIZ 2009 - CONSUMO - UMBIGO GROUP





POR UMA VIDA MAIS CONSCIENTE E COM MENOS CONSUMO.



VISITE: http://www.umbigogroup.com/msg-fimdeano.htm


.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ORGANIZA O NATAL - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Incrível ver como Drummond trasnforma as utopias de sociedade com os pés metidos na realizdade...


Organiza o Natal

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

Carlos Drummond de Andrade


.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O DIREITO DE QUERER MENOS - PENSAR EM CONSUMO E CONCEITO DE MASSA

O direito de querer menos - hermano vianna
Publicado no Mais!, Folha de S. Paulo, 21/12/2003



Nos últimos anos, não é mais possível andar pelas ruas de Londres sem se deparar, em todos os lugares, com uma loja de sanduíches da cadeia Prêt-A-Manger, recinto de look pós-moderno onde podemos ter toda uma nova experiência fast-alimentar. As massas do mundo "desenvolvido" se sofisticaram demais para continuar consumindo hamburgers e coca-colas, mesmo quando estão com pressa. Não fica bem, nem um pouco bem, serem surpreendidas num McDonald's, que não contente de ter fama de gerador de enfartes ainda é acusado de destruidor de florestas tropicais. Além disso, essas massas já foram doutrinadas a gostar de rúcula, tomate seco e capuccino - portanto seus novos paladares não admitem mais aqueles sabores rudes que um dia encantaram a sociedade de consumo em seus tempos primitivos, pré-digitalizados e pré-globalizados.



Ser massa hoje, num país de primeiro mundo, é bem mais complicado. Nada de prazeres fáceis e vulgares, nada de indústria cultural, nada de gostar do que é igual para todos. Agora todo mundo tem que ter personalidade e bom-gosto - sempre definidos por seu padrão de consumo. O produto de massa contemporâneo vem com outra embalagem, para fingir que não é de massa, para aparentar que foi feito só para você, consumidor especial que sabe o que quer, e que para comprar o que quer tem que exercitar o tempo todo o seu sagrado direito da escolha - escolhendo sobretudo algo que o distingue dos outros mortais e atua como seu passe VIP para fora do tão-mal-falado-lugar-comum. Ninguém mais quer estar em nenhum lugar comum, todo mundo quer ser diferente, e ser diferente é chique.



Portanto, o novo McDonald's é o Prêt-A-Manger, até porque a cadeia da nova fast-food foi mesmo comprada pelo McDonald's. Mas é uma fast food envergonhada, que salpica tudo - da decoração à bandeja - com "estilo" e "filosofia". Logo na vitrine, ou na home do web site, quem entra lê: "Nós percorremos distâncias extraordinárias para fugir dos obscuros aditivos, preservativos e agentes químicos comuns na maioria da "fast" food "prepared" que está no mercado hoje em dia." O aviso "filosófico" ainda diz que todos os ingredientes contidos nos sanduíches e nas bagettes (é claro…) chegam frescos nas lojas todos os dias, e os sanduíches e as bagettes (é claro…) não comidos naquele mesmo dia são doados para instituições de caridade.



Fico imaginando os mendigos, que também são sofisticados no primeiro mundo, escolhendo entre um Crayfish and Avocado Salad e um Black Pepper Chicken on Bloomer Bread, que podem ser servidos nas opções Nut Free, Sesame Free, Dairy Free, ou GM Free (GM Free, para quem não sabe - como eu não sabia, significa que o sanduíche não contém nenhum ingrediente Geneticamente Manipulado, isto é, nada de soja ou milhos transgênicos nem nenhum de seus derivados). Para facilitar também as escolhas dos sem-teto britânicos - e agora também de Nova York, Hong Kong, Tóquio e breve de todas outras cidades "desenvolvidas" do mundo - as embalagens contêm informações sobre valores de proteínas, de fibras, de gorduras (saturadas ou não), de carboidratos (dentre eles a quantidade de açúcares). Um educado lembrete diz que "já que quase todos os produtos Pret são feitos todos os dias a partir de ingredientes frescos os valores nutricionais são apenas médias." Assim a empresa evita também que algum mendigo, ou consumidor elegante, a processe no futuro alegando que na sua bagette havia 2% mais carboidratos do que os "propagandeados".



Ao ver tanta opulência numa simples lanchonete não pude deixar de suspirar pensando no meu querido e coitado Terceiro Mundo. Aquilo tudo pode existir ali porque em algum lugar do mundo não existe nada parecido. Isso é matemática de primeiro grau. O planeta não tem recursos suficientes para proporcionar esse padrão de consumo de massas para todas as suas massas. A Terra se esgotaria com quilômetros de plantação de rúcula orgânica de perder de vista e toneladas de tomates limpinhos (de preferência lavados com água mineral Evian…), secando ao sol para depois serem tratados com azeite extra-virgem preparado artesanalmente… (Isso para não falar nos direitos trabalhistas nível comunidade européia que são pagos para quem prepara cada sanduíche daqueles todos os dias!) Não cabe no mundo isso tudo para todos. Não que não fosse bom caber. Mas não vai ter Fome Zero mundial que, nas atuais condições tecno-científicas da engenharia agronômica, vá produzir riqueza o bastante para alimentar o desejo de Crayfish e Avocado Salad (com molho thai, por favor) de toda a população do mundo, se ela vier a desejar tal coisa (como periga desejar se esse estilo de "sofisticação" continuar a se alastrar nessas proporções epidêmicas - como têm se multiplicado assustadoramente, por exemplo, as máquinas italianas de fazer café).



Isso porque estou falando "só" de comida. Imagine que espaço sobraria no mundo se todo mundo tivesse uma casa do tamanho e da "sofisticação" do tipo das que aparecem na Caras ou na Wallpaper (nada contra a Caras… nada contra a Wallpaper…) Ou como seria o trânsito de uma cidade como São Paulo, e os níveis de petróleo no mundo, se todo mundo pudesse ter, como todo mundo parece desejar por razões para mim inexplicáveis a não ser por mero exibicionismo, um Hummer personalizado. Tudo bem, dizem que o carro é bom, dos melhores, já foi testado em guerras no deserto… Eu acredito em propaganda militar e marketing… Mas quem precisa mesmo dele? Quem, em sã consciência, trocaria um bom sistema transporte público por esses dinossauros - sofisticadíssimos, eu sei - cibermecânicos? Mas todo mundo, na hora H, troca a briga por um bom transporte público por um carro vistosão e grandão (coitados dos estacionamentos), se lixando para o mundo, para os outros. E cada vez massas maiores têm acesso a esses bens e vão se empanturrar com tanta sofisticação. Assim caminha o capitalismo, e o fim da história, não é mesmo? Outro mundo é possível? Só se tiver casacos da Burberrys para todos, ou relógios Bulgari para todos? Não precisa tanto: mesmo churrasco no domingo para todos já faria um estrago danado.




Tudo bem. Não quero estragar o domingão de ninguém. Todo mundo é filho de Deus, merece ter tudo do bom e do melhor que até hoje só poucos tiveram. Mas a que custo? E porque todo mundo precisa mesmo desse tipo de "bom e melhor". Não há outros "bons e melhores" bem diferentes disso que hoje as massas parecem desejar? Não vou propor nenhuma patrulha ecopolítica radical para o bem da humanidade. Mas não consigo deixar de achar que o mestre Agostinho da Silva estava coberto de desafiadora razão quando escreveu querendo algo bem distinto disso tudo:"Mas eu quero ver o primeiro homem que não deseja coisa nenhuma! Nunca fazemos treino para isso e, pelo contrário, todo mundo está organizado [...] para desejar alguma coisa mesmo quando não deseja. [...] Quer dizer, o mundo, na fase atual, está continuamente a semear desejos em nós, sendo esse um dos pontos mais importantes do mundo - como é então que podemos chegar a uma economia que não semeie em nós o desejo, mas sim a quietação e não a inquietação". Grande questão, talvez a maior de todas: por que economia tem que ser inquieta por definição?



Agostinho da Silva não era bobo. Ele sabia que foi a partir desse tipo de desejo que todo um parque industrial foi construído para produzir tantas coisas, e que é só por causa desse avanço tecnológico que podemos hoje pensar numa alternativa "quieta". Sei que a pregação desse quietismo solidário soa ingênua, comunista, franciscana, reacionária (contra o "progresso"), moralista ou mesmo obscurantista. Parece um sonho do "vamos nos dar as mãos agora e trocar o luxo de poucos pelo simples e necessário para todos." Só uma mudança tremenda de mentalidade (Agostinho da Silva esperava o Quinto Império, com o Espírito Santo nos iluminando…), da concepção de "desenvolvimento" (para o Brasil se "desenvolver" precisamos mesmo derrubar as florestas e plantar soja?"), ou mesmo da natureza humana, poderia colocar em cheque essa cruel máquina de fabricar inveja, eterna insatisfação e desejos sempre maiores? Desejos por quê? Por uma bolsa Louis Vuitton?!!!




Também acho que não sou totalmente bobo. Consigo evidentemente admirar a beleza de uma bolsa Vuitton desenhada por Takashi Murakami. Acho bacana, bem potlach, que alguém gaste tanto dinheiro para comprar essa bolsa - adoro ver gente queimando dinheiro, quanto mais dinheiro melhor. Mas também sei que o mundo poderia viver muito bem sem essa bolsa (ou que o preço de uma bolsa boa e bonita poderia ser infinitamente mais barato), e não seria um lugar menos interessante por isso. E então não consigo evitar de sempre ver que há algo de podre (a tal cruel máquina de reprodução de inveja, insatisfação e também humilhação) na bolsa Murakami, no sanduíche do Prêt-A-Manger (por mais frescos que eles sejam), ou na hipnótica branquidão dos lençóis de algodão egípcio do Hotel Fasano (isso para não falar no assento térmico da privada do Emiliano).




Sempre vai ter alguém que tem mais, ou vai ter um produto novo - e glamurosamente caro - que você não tem e não pode ter (e o fato de você não precisar ter não tem a menor importância, quando o desejo de ter é o que move tudo). Um restaurante de luxo vai ter que sofisticar e encarecer sua culinária se quiser se manter "acima" dos fast-food sofisticadíssimos que o sucesso de massa do Prêt-A-Manger e do café italiano apenas anuncia de forma tímida e canhestra (ninguém realmente "sofisticado" come no Prêt-A-Manger). Com as massas do primeiro mundo cada vez ganhando mais dinheiro, uma loja como a Prada vai ter que aumentar constantemente e astronomicamente seus preços a cada estação se quiser manter o interesse de uma clientela que compra não produtos mas sim exclusividade, aquilo que todo mundo não pode comprar. Pois sem exclusão, nada disso existiria: se uma roupa é usada por qualquer um, ela necessariamente - no regime de moda no qual vivemos - perde o seu charme. E assim por diante: se todo mundo puder comer nesse restaurante, dormir nesse hotel, viajar nessa primeira classe, todo esse mundo desmoronaria. É preciso deixar sempre gente de fora para a festa da sala VIP ser animada.




O que estou pregando então? Uma comunidade hippie globalizada? Uma nova revolução cultural maoísta? Pretinhos básicos, e nada mais, para todas as moças? Nada disso parece ter dado muito certo, não é? Porque todo mundo está ficando cada vez mais louco ao consumir e não há - até segunda ordem - plano de fuga no shopping center planetário (fugir para onde? até em Cuba as pessoas se jogam no mar revolto só para fazer compras em Miami… e mesmo no Butão, que não tinha TV até os anos 90, agora já tem internet…). Então esta é minha única maneira de terminar este texto com um elegante otimismo: quero apenas menos, um pouquinho menos. Vocês que são brancos, e precisam realmente comprar isso tudo, que se entendam. Não vou nem concluir dizendo que tudo isso me parece um pouco cafona (o que seria muito óbvio - até porque eu gosto de brega!), não vou nem insinuar que não é mais nem um espetáculo interessante contemplar o barulho produzido por tanta insatisfação (e acho que mesmo estratégias situacionistas de desconstrução desses desejos apenas aumentam o barulho, e a quantidade de coisas e ações que atravancam o mundo…) Como diz o Wado, numa canção que adoro: eu vou ficar quietinho, eu vou ficar no meu canto. Talvez essa seja a atitude mais radical.




.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

COLECIONADORA DE SELOS


.
.

[beijo.jpg]



.

QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS

Vi hoje, numa apresentação, um rápidíssimo panorama histórico, sintetizado em curtas frases.

Depois das frases da época antiga, medieval, moderna, o slide apresentou a que se referia à época CONTEMPORÂNEA:


"Deus morreu!
Marx morreu!
E eu não me sinto muito bem..."


Ri para não chorar (aliás, essa tem sido uma reação comum nos dias de hoje, diante de questões sérias, que nos trazem consquências graves).


.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ZECA BALEIRO - VÔ IMBOLÁ - 1999 - REPENSANDO O CONSUMO





tire o seu piercing do caminho

que eu quero passar com a minha dor

pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
eu existo porque penso tenso por isso insisto

são sete as chagas de cristo
são muitos os meus pecados
satanás condecorado na tv tem um programa
nunca mais a velha chama
nunca mais o céu do lado
disneylândia eldorado
vamos nós dançar na lama
bye bye adeus gene kelly
como santo me revele como sinto como passo
carne viva atrás da pele aqui vive-se à mingua
não tenho papas na língua
não trago padres na alma
minha pátria é minha íngua

me conheço como a palma da platéia calorosa
eu vi o calo na rosa eu vi a ferida aberta
eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar
mas a minha mente boquiaberta
precisa mesmo deserta
aprender aprender a soletrar




não me diga que me ama
não me queira não me afague
sentimento pegue e pague emoção compre em tablete
mastigue como chiclete jogue fora na sarjeta



compre um lote do futuro cheque para trinta dias
nosso plano de seguro cobre a sua carência
eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
demência felicidade propriedade privada

não se prive não se prove
dont't tell me peace and love
tome logo um engov pra curar sua ressaca
da modernidade essa armadilha
matilha de cães raivosos e assustados


o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado
- lugar de ser feliz não é supermercado




o inferno é escuro não tem água encanada
não tem porta não tem muro
não tem porteiro na entrada
e o céu será divino confortável condomínio
com anjos cantando hosanas nas alturas
onde tudo é nobre e tudo tem nome
onde os cães só latem
pra enxotar a fome
todo mundo quer quer
quer subir na vida
se subir ladeira espere a descida
se na hora "h"o elevador parar
no vigésimo quinto andar der aquele enguiço
- sempre vai haver uma escada de serviço




todo mundo sabe tudo todo mundo fala
mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la

quem não quer suar camisa não carrega mala
revólver que ninguém usa não dispara bala
casa grande faz fuxico
quem leva fama é a senzala
pra chegar na minha cama
tem que passar pela sala
quem não sabe dá bandeira
quem sabe que sabia cala
liga aí porta-bandeira não é mestre-sala
e não se fala mais nisso mas nisso não se fala

Piercing - Zeca Baleiro e Faces do Subúrbio (PE)


.

BAHIA AFRO FILME FESTIVAL

[BAHIAAFRO+FILME+FESTIVAL.jpg]



confiram a aprogramação: http://www.bahiaafrofilmfestival.com/

.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

MÃOS DADAS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Mãos Dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.



Carlos Drummonde de Andrade



.

CONSUMO: ECONOMIA INTELECTUAL

fast food, slow food, raw food & food tudo - Saturday, February 25, 2006

bar ruim é lindo, bicho


Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem). No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. "Ô Betão, traz mais uma pra gente", eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.



Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.



Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. Porque a gente acha que o bar ruim é autêntico e o bar bom não é, como eu já disse. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.



Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.



Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo. Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato. Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já dissealgumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.




Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil! Ainda mais poque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).




-- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

(Antônio Prata)
(foto do ricardo serpa)



retirado de: http://foodsequiser.blogspot.com/2006/02/bar-ruim-lindo-bicho.html





.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CONSUMO: CATA-AÇÃO DE LIXO - SALVADOR - BAHIA

[CATA+AÇÃO+carta.jpg]



O coletivo LAMIA apioa esta ação!.
.

CUBA E A CRISE AMERICANA

[crise+americana+.jpg]




.

CONSUMO

Passeio Socrático
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas:
"Estou apenas fazendo um passeio socrático."
Diante de seus olhares espantados, explico:
"Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.
Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

(ANÔNIMO)

.

domingo, 23 de novembro de 2008

LIXO - RECICLAGEM - CATADORES


[lixão.jpg]


Você sabe o que é preciclar?

É pensar antes de comprar. 40% do que nós compramos é lixo.

São embalagens que, quase sempre, não nos servem para nada, que vão direto para o lixo aumentar os nossos restos imortais no planeta.

Poderia ser diferente? Tudo sempre pode ser melhor.

Pense no resíduo da sua compra antes de comprar. Às vezes um produto um pouco mais caro tem uma embalagem aproveitável para outros fins.

Estes são os 3 R's: Reduzir, Reutilizar e Reciclar

Reduzir o desperdício,
Reutilizar sempre que for possível antes de jogar fora, e
Reciclar, ou melhor: separar para a reciclagem, pois, na verdade, o indivíduo não recicla (a não ser os artesãos de papel reciclado).

O termo reciclagem, tecnicamente falando, não corresponde ao uso que fazemos dessa palavra pois reciclar é transformar algo usado, em algo igual, só que novo. Por exemplo, uma lata de alumínio, pós-consumo, é transformada, através de processo industrial, em uma lata nova.


Quando transformamos uma coisa em outra coisa, isso é reutilização.


O que nós, como indivíduos, podemos fazer, é praticar os dois primeiros R's: reduzir e reutilizar.


Quanto à reciclagem, o que nós devemos fazer é separar o lixo que produzimos e pesquisar as alternativas de destinação, ecologicamente corretas, mais próximas.

Pode ser uma cooperativa de catadores ou até uma instituição filantrópica que receba material reciclável para acumular e comercializar.

O importante é pensarmos sobre os 3 R's procurando evitar o desperdício, reutilizar sempre que possível e, antes de mais nada, preciclar!
Ou seja: Pensar antes de comprar. Pensar no resíduo que será gerado. Evite embalagens plásticas: elas poderão ser transformadas em produtos plásticos reciclados. O vidro é totalmente reciclável e muito mais útil em termos de reutilização da embalagem. Preciclar é pensar que a história das coisas não acaba quando as jogamos no lixo. Tampouco acaba a nossa responsabilidade!


http://www.lixo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=132&Itemid=239



.

sábado, 22 de novembro de 2008

PERFORMANCE LAMA - SALVADOR - BAHIA




DOMINGO - 14:30 - PRAIA DO BURACÃO - RIO VERMELHO




PERFORMANCE LAMA: O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS é um projeto de video-performance e intervenção urbana utilizando a exploração de texturas através da Dança Contato Improvisação com intermédio da argila (lama/ barro).




A proposta de intervenção desta Performance se dá em locais não convencionais de apresentação de dança, como em praças, na rua, na praia, no jardim, em frente aos bancos, festas, outros... intervindo no local através de um momento inicial ritual, onde vamos de encontro ao ritmo imposto pelas cidades provocando um mistura de sensações: ora religioso, ora libertador, belo e sensual, ora agonizante, repugnante, nojento, sujo...


UMA INICIATIVA: SOTÃO 73 E COLETIVO LAMIA

VEJA MAIS: WWW.SOTAO73.BLOGSPOT.COM







segunda-feira, 17 de novembro de 2008

VIDEOARTISTA CAO GUIMARÃES TEM MOSTRA NO MAM

Videoartista Cao Guimarães tem mostra na Saladearte do MAM
Data: 20/11/2008




"O Museu de Arte Moderna da Bahia lança na próxima quarta feira (19/11) às 19h, em parceria com o Circuito de Cinema Saladearte, o Cinema de Artista projeto que tem como objetivo promover a videoarte e o cinema experimental na Bahia. Na estréia do, o MAM traz a Salvador o cineasta, fotógrafo e videoartista Cao Guimarães. Na abertura do projeto, dia 19/11 (quarta), às 19h, acontece com a estréia da Retrospectiva Videoarte Cao Guimarães, seguida por um bate-papo com o artista. No dia 20, será realizada a pré-estréia em Salvador do seu longa “Andarilho”.





Projeto inovador, o Cinema de Artista vai apresentar o trabalho de realizadores que passeiam entre as linguagens, tanto do vídeo quanto do cinema, como é o caso do mineiro Cao Guimarães. Para Solange Farkas "a produção de Cao Guimarães é exemplar e perfeita para inaugurar este novo projeto do museu, pois ele abre múltiplas linhas de pensamento e intersecção das diversas formas de realização e exibição audiovisual." Segundo Farkas, com este projeto o MAM se transforma em espaço de exibição, exposição e debate sobre a produção audiovisual contemporânea. A intenção do museu é trazer regularmente a Salvador artistas convidados para apresentar e debater sua obra com o público do MAM. O projeto prevê ainda para este ano Carlos Nader para o lançamento do seu documentário, premiado no festival É Tudo Verdade, “Wally Salomão”.



]



Além destes eventos, a parceria entre o Circuito de Cinema Saladearte e o MAM apresenta diariamente, nos dois primeiros horários do Cinema do MAM, as Sessões Videoarte, sempre gratuitas e destinadas à formação do olhar. Nos últimos horários, a programação do Cinema do MAM segue alinhada à diretriz do museu, exibindo filmes com temáticas ligadas às artes visuais. A parceria entre o MAM e o Circuito Saladearte também tem a importância de possibilitar a diminuição no valor do ingresso destes últimos horários, que irão custar R$ 4,00 (preço único). O filme de Cao, Andarilho, entra em circuito a partir do dia 21.11 (sexta), no Cinema do MAM, custando este valor."







Fonte: Plug Cultura - Secretaria da Cultura do Estado da Bahia

EXPOSIÇÃO DE FOTOS ANTIGAS DE SALVADOR


Rampa do Mercado Modelo com barcos - imagen de 1950.


Vendedor na Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, de 1952.






Praça da Sé (primeira reforma) - foto tirada em 1940.
correio da bahia - 17.11.08


EXPOSIÇÃO FOTOS ANTIGAS DE SALVADOR


Praia do Porto da Barra - foto de 1940




Panorama do porto com o antigo Mercado Modelo - de 1948 - O prédio foi destruído em um incêndio em 1969.





Ladeira da Conceição da Praia - foto de 1941.





Ladeira, de 1940, com o Elevador Lacerda ao fundo.



Barraca de comidas típicas na Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, foto de 1952.


Exposição em São Paulo mostra imagens antigas da capital baiana - Correio da Bahia - 17.11.08



Uma exposição mostrando a Salvador das décadas de 1930 e 1960 acontece a partir deste sábado (15), na Pinacoteca do Estado de São Paulo.




As imagens da mostra 'Abundante cidade - Dessemelhante Bahia' são do fotógrafo Voltaire Fraga e mostram os principais pontos da cidade, como o Mercado Modelo e as praças Municipal e Castro Alves. A obra do artista só teve uma exposição em Salvador, em 1999. Voltaire faleceu em 2006.




A exposição tem 100 fotos, todas em preto e branco, e faz parte das comemorações do Dia da Consciência Negra (20/11). A mostra fica aberta até janeiro de 2009.








terça-feira, 11 de novembro de 2008

A ALMA GRÁFICA: BRENNAND DESENHOS




ALMA GRÁFICA: BRENNAND DESENHOS


Por: Daniela Castro - ATARDE ONLINE



UM ARTISTA DE ALMA FEMININA






Até o dia 21 de dezembro, o acervo da Oficina Brennand, instalada na cidade do Recife, estará desfalcada de 63 obras. Mas não se trata de nenhum caso de dilapidação de patrimônio artístico. Muito diferente disso, o pernambucano Francisco Brennand estará compartilhando sua arte com os baianos, que terão a oportunidade de conferir seu traço na Caixa Cultural.


Trata-se da mostra A Alma Gráfica: Brennand Desenhos, que tem abertura nesta segunda, 10, às 20 horas, para convidados e segue em cartaz, sempre de terça a domingo, com entrada franca. Com curadoria de Olívio Tavares, a exposição revela uma faceta menos conhecida do artista, que tem mais de 30 anos de carreira e é mundialmente aclamado por seu talento como escultor e ceramista.


Em comum com as esculturas, os 59 desenhos expostos em Salvador têm a referência ao universo feminino e à sexualidade. Já o elemento trágico, que também é uma marca registrada de Brennand, aparece em tons mais amenos. “A tragédia não está onipresente e é menos intensa do que nas grandes peças tridimensionais”, explica o curador.
TRAÇO – A exposição reúne registros de naturezas diversas, desde o mais rudimentar esboço ou rabisco até composições cuidadosamente elaboradas, com direito a texturas requintadas. Em foco, tanto há flagrantes de cenas caras ao cotidiano de qualquer mulher, quanto imagens que parecem pinçadas do imaginário.


Certa morbidez também salta dos desenhos de Francisco Brennand, que se vale da liberdade criativa e aposta numa linguagem expressionista, marcada por cores intensas e figuras deformadas por um quê de grotesco. Um traço forte indica que algumas obras passaram por longo tempo de maturação, ao passo que outras retratam a espontaneidade de algum momento. Mas nem o próprio criador ousa precisar o que lhe inspira.

“O artista não é como o filósofo ou o cientista, aquele que descobre as coisas por pesquisas anteriores. O artista deve ser aquele que intui o mistério e logo coincide com o eixo do mundo, com o universo, ou como hoje se diz, com o cosmos”, registra ele em O Oráculo Contrariado, texto autobiográfico publicado em seu site oficial.
ESCULTURA – É claro que algumas representantes da escultura de Brennand não poderiam deixar de fazer parte da mostra. Por isso, o público poderá ver de perto quatro dessas peças, que fazem parte do acervo da velha Cerâmica São João da Várzea, fundada pelo pai do artista em 1917 e reformada por ele em 1971.


O local, que o artista prefere chamar de “oficina”, abriga um gigantesco projeto de esculturas que ocupa nada menos do que 15 mil metros quadrados. Para que o público compreenda a grandiosidade do projeto, a exposição também traz fotografias do ateliê e os visitantes da mostra terão à sua disposição um catálogo com texto do biógrafo Weydson Barros.
RECONHECIMENTO – Apontado como o maior escultor vivo do Brasil e um dos mais importantes do mundo, Francisco Brennand afirma que tais títulos o surpreendem. “Com o tempo, pela dimensão da minha obra cerâmica, sobretudo das esculturas, estou sendo reconhecido mais propriamente como escultor do que como pintor, o que não deixa de me causar espanto”, afirma, também em O Oráculo Contrariado.


“Talvez por um motivo subjetivo, não me reconheço como escultor. Ainda insisto em atribuir esse ofício àquele que retira a forma da matéria dura”, continua Brennand, que faz uma comparação curiosa entre as diferentes técnicas que utiliza para dar forma a sua arte. Quando eu pinto, sou um artista ocidental. Quando faço cerâmica, não tenho pátria; minha pátria é o abismo pelo qual vou resvalando sem saber o que encontrarei no fundo”, anota.


TRAJETÓRIA –Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu em 1927, no Recife, e logo se interessou pela pintura. Não demorou para ganhar destaque nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, que lhe renderam um primeiro prêmio em 1947.
O artista participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua história chegou a inspirar outras linguagens artísticas. Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu o curta-metragem Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista. Em 1980, um segundo trabalho cinematográfico sobre sua oficina foi dirigido por Jayme Monjardim. Em seguida, Jeneton Moraes e Guel Arraes produziram o filme Um Sonho Bárbaro – Francisco Brennand.


Serviço:
A Alma Gráfica: Brennand Desenhos Abertura: nesta segunda, às 20h, para convidados Caixa Cultural Salvador (3322-0228) Rua Carlos Gomes, 57, Centro Ter a dom, das 9h às 18h Até 21 de dezembro Entrada franca

terça-feira, 4 de novembro de 2008

GATO FILHOTE NO ASFALTO

às vezes a gente se sente assim: olhando para onde não estamos!


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
os ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

ITAIGARA - VISÃO PARA FORA DO TRABALHO - outro momento


CONCRETO. VIOLÊNCIA CONCRETA - QUE SEUS OLHOS NÃO VÊEM, MAS É PRECISO SABER!

Pois eu mudei de sala e fui conferir como era este outro lado: igual!

Árvores, casarões, prediões num cartão postal da cidade que emana civilidade ilusória.

Em outros lugares, que não gozam de ruas e construções "belas", pessoas agredidas a qualquer momento do dia ou da noite. Esta cidade é separada por linhas invisíveis.

Diferente da "paisagem", os corpos guardam sensações de medo e fragilidade; a saúde coletiva arca com dores de âmbitos financeiros, de atendimento, social, psicológico. Sim. A questão é pública e de sentidos e combates multidisciplinares.


"Os índices de violência contra a mulher em Salvador são crescentes e alarmantes. Em 2007 foram registradas 8.875 ocorrências policiais na DEAM – Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, relativos a crimes praticados contra as mulheres, o que abrange desde ameaças até lesões corporais, espancamentos, estupros, dentre outros. De janeiro a julho de 2008, a DEAM registrou 4.182 ocorrências."
(Superintendência Especial de Políticas Para as Mulheres - SPM/Salvador) - http://www.spm.salvador.ba.gov.br

O dia segue com um tom mais concreto sobre a vida.

sábado, 1 de novembro de 2008

VIDA CAPITAL - Peter Pál Pelbart - trecho

PODER SOBRE A VIDA, POTÊNCIAS DA VIDA


Biopoder – poder sobre a vida

Biopotência – poder da vida

(Deleuze)


“De fato, como poderia o império atual manter-se caso não capturasse o desejo de milhões de pessoas? Como conseguiria ele mobilizar tanta gente caso não plugasse o sonho das multidões às megamáquina planetária? Como se expandiria se não vendesse a todos a promessa de uma vida invejável, segura, feliz?” p.20


“Através dos fluxos de imagens, de informação, de conhecimento e de serviços que acessamos constantemente, absorvemos maneiras de viver, sentidos de vida, consumimos toneladas de subjetividades.” p.20 – novo modo de relação entre o capital e a subjetividade.


O CAPITALISMO SE ESTABELECE – capitalismo cultural, economia imaterial

- inicialmente pela captura dos desejos da multidão


BIOPOLÍTICA, SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

- através da mídia e da propaganda, penetra e coloniza o aparentemente inviolável inconsciente; mobiliza essas esferas


O IMPÉRIO SE NOMADIZOU – capitalismo em rede

- falência lógica da fortaleza: expansão da lógica de fluidez

- enaltece as conexões, a movênia

- produz novas formas de exploração e de desligamento


A MAIORIA ESTÁ DESPLUGADA DA REDE DE VIDA

- por que o direito de engatar-se migra do âmbito social para o âmbito comercial


“Em outras palavras: se antes a pertinência às redes de sentido e de existência, aos modos de vida e aos territórios subjetivos dependia de critérios intrínsecos tais como tradição, direitos de passagem, relações de comunidade e trabalho, religião, sexo, cada vez mais este acesso e mediado por pedágios comerciais, impagáveis para a maioria”. p.21


“Que possibilidades restam nessa conjunção de plugagem global e exclusão maciça de produzir territórios existenciais alternativos àqueles ofertados ou mediados pelo capital?” p.22


É PRECISO INSTRUMENTOS ESQUISITOS PARA AVALIAR A CAPACIDADE DE CONSTRUÍREM TERRITÓRIOS SUBJETIVOS OS “EXCLUÍDOS”.


“Que capacidade social de produzir o novo está disseminada por toda parte, sem estar essa capacidade subordinada aos ditames do capital, sem ser proveniente dele nem depender da valorização?” p. 22


TODOS PRODUZEM CONSTANTEMENTE. “produzir é inventar novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação.” p.23


A INVENÇÃO É A POTÊNCIA DO HOMEM COMUM!


A VITALIDADE COGNITIVA E AFETIVA É SOLICITADA E POSTA A TRABALHAR – pelo capitalismo

- vida capital

- A dimensão subjetiva e extra-econômica era antes relegada ao privado, ao pessoal.


“São requisitados dos trabalhadores sua inteligência, sua imaginação, sua criatividade (...) sua afetividade (...)” p.24


AS FORÇAS VIVAS PASSAM DE RESERVAS PASSIVAS À MERCER DO CAPITAL E SER O PRÓPRIO CAPITAL; A PRINCIPAL RIQUEZA DO CAPITALISMO


BIOPOLÍTICA (FOUCAULT – século (xviii)

– modalidade de exercício de poder sobre a vida

– vida biológica


POTÊNCIA DE VIDA (DELEUZE)

- o conceito de vida inclui a sinergia coletiva, cooperação social e subjetiva (inteligência, afeto, cooperação e desejo)

- não mais reduzida à função biológica


A luta contra a dominação e exploração está ao lado da luta contra as formas de assujeitamento, de submissão da subjetividade.


Superposição das 3 dimensões: povo, multidão, massa.


EXTENSÃO DO IMPÉRIO

- modalidade de controles mais sofisticados

- territorialismo generalizado

- militarização do psiquismo mundial



“Há algo no império que é puro desfuncionamento”. p.27


PELBART, Peter Pál. Vida Capital. SP: Iluminuras, 2003. 252p.