terça-feira, 11 de novembro de 2008

ALMA GRÁFICA: BRENNAND DESENHOS


Por: Daniela Castro - ATARDE ONLINE



UM ARTISTA DE ALMA FEMININA






Até o dia 21 de dezembro, o acervo da Oficina Brennand, instalada na cidade do Recife, estará desfalcada de 63 obras. Mas não se trata de nenhum caso de dilapidação de patrimônio artístico. Muito diferente disso, o pernambucano Francisco Brennand estará compartilhando sua arte com os baianos, que terão a oportunidade de conferir seu traço na Caixa Cultural.


Trata-se da mostra A Alma Gráfica: Brennand Desenhos, que tem abertura nesta segunda, 10, às 20 horas, para convidados e segue em cartaz, sempre de terça a domingo, com entrada franca. Com curadoria de Olívio Tavares, a exposição revela uma faceta menos conhecida do artista, que tem mais de 30 anos de carreira e é mundialmente aclamado por seu talento como escultor e ceramista.


Em comum com as esculturas, os 59 desenhos expostos em Salvador têm a referência ao universo feminino e à sexualidade. Já o elemento trágico, que também é uma marca registrada de Brennand, aparece em tons mais amenos. “A tragédia não está onipresente e é menos intensa do que nas grandes peças tridimensionais”, explica o curador.
TRAÇO – A exposição reúne registros de naturezas diversas, desde o mais rudimentar esboço ou rabisco até composições cuidadosamente elaboradas, com direito a texturas requintadas. Em foco, tanto há flagrantes de cenas caras ao cotidiano de qualquer mulher, quanto imagens que parecem pinçadas do imaginário.


Certa morbidez também salta dos desenhos de Francisco Brennand, que se vale da liberdade criativa e aposta numa linguagem expressionista, marcada por cores intensas e figuras deformadas por um quê de grotesco. Um traço forte indica que algumas obras passaram por longo tempo de maturação, ao passo que outras retratam a espontaneidade de algum momento. Mas nem o próprio criador ousa precisar o que lhe inspira.

“O artista não é como o filósofo ou o cientista, aquele que descobre as coisas por pesquisas anteriores. O artista deve ser aquele que intui o mistério e logo coincide com o eixo do mundo, com o universo, ou como hoje se diz, com o cosmos”, registra ele em O Oráculo Contrariado, texto autobiográfico publicado em seu site oficial.
ESCULTURA – É claro que algumas representantes da escultura de Brennand não poderiam deixar de fazer parte da mostra. Por isso, o público poderá ver de perto quatro dessas peças, que fazem parte do acervo da velha Cerâmica São João da Várzea, fundada pelo pai do artista em 1917 e reformada por ele em 1971.


O local, que o artista prefere chamar de “oficina”, abriga um gigantesco projeto de esculturas que ocupa nada menos do que 15 mil metros quadrados. Para que o público compreenda a grandiosidade do projeto, a exposição também traz fotografias do ateliê e os visitantes da mostra terão à sua disposição um catálogo com texto do biógrafo Weydson Barros.
RECONHECIMENTO – Apontado como o maior escultor vivo do Brasil e um dos mais importantes do mundo, Francisco Brennand afirma que tais títulos o surpreendem. “Com o tempo, pela dimensão da minha obra cerâmica, sobretudo das esculturas, estou sendo reconhecido mais propriamente como escultor do que como pintor, o que não deixa de me causar espanto”, afirma, também em O Oráculo Contrariado.


“Talvez por um motivo subjetivo, não me reconheço como escultor. Ainda insisto em atribuir esse ofício àquele que retira a forma da matéria dura”, continua Brennand, que faz uma comparação curiosa entre as diferentes técnicas que utiliza para dar forma a sua arte. Quando eu pinto, sou um artista ocidental. Quando faço cerâmica, não tenho pátria; minha pátria é o abismo pelo qual vou resvalando sem saber o que encontrarei no fundo”, anota.


TRAJETÓRIA –Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand nasceu em 1927, no Recife, e logo se interessou pela pintura. Não demorou para ganhar destaque nos Salões do Museu do Estado de Pernambuco, que lhe renderam um primeiro prêmio em 1947.
O artista participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua história chegou a inspirar outras linguagens artísticas. Em 1977, o cineasta Fernando Monteiro dirigiu o curta-metragem Brennand: Sumário da Oficina pelo Artista. Em 1980, um segundo trabalho cinematográfico sobre sua oficina foi dirigido por Jayme Monjardim. Em seguida, Jeneton Moraes e Guel Arraes produziram o filme Um Sonho Bárbaro – Francisco Brennand.


Serviço:
A Alma Gráfica: Brennand Desenhos Abertura: nesta segunda, às 20h, para convidados Caixa Cultural Salvador (3322-0228) Rua Carlos Gomes, 57, Centro Ter a dom, das 9h às 18h Até 21 de dezembro Entrada franca

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