sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MILTON SANTOS e FRANCISCO RUDIGER

Trecho de entrevista com Milton Santos
Doutor Honoris Causa em 14 universidades do Brasil e do mundo, ganhador do Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, tido como o Nobel da área, o geógrafo Milton de Almeida Santos (1926-2001) não se conformava com a supervalorização que a humanidade dá à tecnologia.

Fonte: Visão Geográfica / Boletim (s/d)


BOLETIM - Como viver no mundo da pressa e criticá-lo ao mesmo tempo?

MILTON SANTOS - O que se pode fazer é viver apresado, para garantir a subsistência, mas sem perder de vista a construção de um sonho. É o sonho que obriga o homem a pensar.


BOLETIM - O homem de hoje é um ser ético?


MILTON SANTOS - O ser humano agora é convocado a não ser ético. E às vezes as pessoas seguem essa tendência porque precisam sobreviver, criar os filhos, sustentar a família. Mas, no fundo, todos guardam a consciência do que é bom, com a esperança de utilizá-la um dia.


E como é o desenvolvimento tecnológico da modernidade que nos impele à aceleração e à tentação da falta de ética e de valores tradicionais, lembrei de um trecho que li ontem:


[Andrew Feenberg] "Ex-aluno de Marcuse, para ele e outros (David Noble, Langdon Winner), a tecnologia depende de fins outros que não os tecnológicos. Somos prisioneiros de um fetichismo tecnológico, que só pode ser superado via reflexão filosófica e ação política. A humanidade não tem por que se voltar contra a tecnologia, mas sim alterar a direção em que ela se desenvolve. O objetivo seria apontar para uma nova, 'pois a tecnologia estabelecida se tornou um instrumento de política destrutiva' (Marcuse, [1964] 1979,p.211)'.


(...)


As transformações realmente significativas para os seres humanos virão quando eles começarem a intervir conscientemente no desenho e no uso da tecnologia. A cultura não se opõe à tecnologia. O desenvolvimento da técnica deve ser posto a serviço das finalidades criadas conscientemen no âmbito da vida cotidiana: desde já, esse é o nosso principal desafio político como seres humanos.


(...)


O capitalismo moderno tornou a tecnologia um princípio de dominação política, confirmando sua falta de neutralidade, mas isso não fecha totalmente as possibilidades de uma transformação e, portanto, nos impede de sermos fatalistas, como os pensadores fáusticos.


(...)


As cidades podem ser construídas e organizadas em função do carro particular ou do transporte público; o atendimento hospitalar pode ser montado tendo em vista as doenças epidêmicas ou cirurgias plásticas; a televisão pode funcionar a serviço do mercado ou da educação. As alternativas não são fantasias utópicas, mas possibilidades reais contidas em nossa sociedade, ainda que de maneira latante, devido ao predomínio das relações sociais criadas, mantidas e reproduzidas pelo sistema dominante: o capitalismo."


RUDIGER, Francisco. Pistas para a crrítica do pensamento tecnológico. O legado da escola de Frankfurt. In: Introdução às teorias da cibercultura. Porte Alegre: Sulina,2a ed. 2007.


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