quinta-feira, 5 de março de 2009

ECONOMIA SOLIDÁRIA - BANCO PALMAS E A CRISE



Ricardo Young Afinal, o que é sustentabilidade na base da pirâmide? É apoiar a localidade com atividades que possam gerar renda a partir dos recursos lá existentes e aperfeiçoar a competência para que o capital, mesmo mínimo, possa se reproduzir e ser reaplicado, fazendo a roda girar.


Portanto, ao global precisamos agregar o local. Um iPhone não pode ser produzido localmente, mas boa parte dos serviços de um bairro, sim. Um pedreiro precisa atravessar a cidade para conseguir trabalho, se há tantas obras na rua onde mora? Não. Mas o que falta para ele operar localmente? Crédito. Se os grandes bancos não se interessam por empréstimos de pequenas quantias – as despesas administrativas “comeriam” boa parte do lucro embutido nos juros – o que resta ao microempresário: os governos? Não. A ação da comunidade pode resolver alguns impasses. E o Brasil tem um belo exemplo: o Banco de Palmas, fundado em 1998 no Conjunto Palmeiras, bairro popular a 20 km de Fortaleza.


A idéia de criar um banco comunitário surgiu quando um grupo de moradores do bairro “descobriu” que a comunidade consumia perto de 2 milhões de reais por mês. Mas o dinheiro não movimentava a economia local, pois era gasto em outros bairros. Assim, mobilizando todos os moradores, reunindo-os em concorridas assembléias, este grupo conseguiu criar um banco comunitário para fazer circular a riqueza dentro do Conjunto Palmeiras. Para tanto, foi instituído o palma, dinheiro alternativo e de uso exclusivo no bairro. As pessoas adquirem esta moeda trabalhando, executando algum serviço para a comunidade. O pagamento é feito nesta moeda e, com ela, é possível comprar qualquer coisa ou solicitar qualquer serviço no bairro. As vendas feitas para fora são negociadas em reais que, quando recebidos, são logo trocados por palmas no Banco.


Como este dinheiro só circula no bairro, o Banco não tem problema de liquidez. Ele é emitido pelo próprio Banco e tem paridade com o real. Há vinte e cinco mil palmas em circulação. Este dinheiro já ajudou muitos moradores a progredirem com seus negócios. Cabeleireiro, sapateiro, artesã, vendedora de roupas, dono de frigorífico, enfim, quase todos as empresas (micro) do local não existiriam e não prosperariam se não fosse o Banco Palmas.


Na hora de pedir um empréstimo, a análise de crédito é feita entre os vizinhos do requerente. Nada de SPC ou Serasa. Os juros também são mais baixos e há um cartão de crédito para os bons pagadores. As decisões são tomadas por um colegiado formado pelos próprios tomadores do dinheiro do banco: artesãos, costureiras e comerciantes do Conjunto Palmeiras.


O Banco também busca novos negócios e inovação. Por isso, apoiou um grupo de mulheres que comprou máquinas de costura e, com a consultoria do Sebrae, criou a grife Palma Fashion, comercializada na comunidade e também “exportada” para lojas de outros bairros.


O Banco Palmas permitiu a criação de 1200 empregos locais; também melhorou a renda dos microempresários, fez a população criar raízes no lugar e desenvolveu uma cultura de solidariedade, bem como uma economia de compartilhamento.


O exemplo já foi copiado por outras comunidades. Desde 2005, 38 bancos inspirados no Palmas foram criados no Brasil, inclusive na região quilombola do Maranhão.


O Banco de Palmas será reconhecido, mais cedo ou mais tarde, como uma das mais originais contribuições brasileiras para o desenvolvimento sustentável na vertente da inclusão social com preservação ambiental. Um dos melhores exemplos de que se tem notícia para ilustrar a máxima gandhiana de “fazer mais com menos para mais”, em si uma definição da sustentabilidade.


Num momento em que os gigantes financeiros internacionais estão pedindo ajuda aos Estados, vale a pena conferir a experiência do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza.

Visite o sítio www.bancopalmas.org

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